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domingo, 26 de dezembro de 2010

Palavras & Impulsividade

"...o amor sem ser incompreendido não seria romântico", escreveu em uma folha de papel tentando por meio desta frase começar algo grandioso e profundo, mas a inspiração a escapava. Levantou para buscar mais uma caneca de chocolate quente, mas acabou optando por café. Já passava das 3:15 da madrugada, e ela não estava com a mínima vontade de dormir. O café não iria ajudar. Mas quem se importa?
Desde que ele a deixou, dormir havia se tornado uma forma de tortura. Deitar sob aqueles lençois e encostar a cabeça naqueles travesseiros traziam de certa forma o cheiro de seus perfumes misturados, mesmo que já houvesse lavado a roupa de cama diversas vezes. Ela costumava chamar o fato de "memória sinestésica".
Voltou para seu papel, esperando escrever algo que gostasse, mas tudo que vinha em sua cabeça acabava em rabiscos. Finalmente, desistiu dos papéis. A procura de distração, ligou o computador. Sem nada para fazer na internet, entrou em um daqueles "chats" virtuais, mas sabendo que não ia achar ninguém nem nada de muito interessante por lá. Não podia estar mais enganada.
Ela começou a conversar com um menino, que dizia estar na internet as 3:30 da manhã por culpa da insônia. Conversaram sobre muitas coisas...Música, livros, cinema...E descobriram muitas coisas em comum. Trocaram e-mails e passaram a se falar todas as madrugadas.
Ela gostava desse mistério, de se aproximar tanto de alguém sem saber quem era, e nem como era. A aproximação entre eles crescia cada vez mais. Ele ia a cativando de uma forma estranha, que de certa forma, ela gostava, pois nunca havia se apegado a alguém daquele jeito, e nunca esperaria se apegar a alguém que conhecia apenas através de palavras digitadas em um computador, sem saber se estas palavras eram verdadeiras ou não. Mas se analisa-se bem o contexto da sua nova paixão platônica, fazia todo sentido. Ela era uma escritora, e nada a deixava mais encantada do que simplesmente, e puramente, palavras, apenas palavras.
Ela já conseguia dormir, algumas noites, sem a "memória sinestésica", pois seus pensamentos estavam ocupados pensando em como poderia ser aquela pessoa por quem ela esperava o dia todo passar, para poder conversar virtualmente. E isso a assustava. Ela tnha dúvidas sobre seus sentimentos, e sobre aquele rapaz com quem conversava sempre. Ela ainda se sentia insegura sobre o que estava sentindo, e ainda pensava naquele que havia deixado o perfume em seu travesseiro.
Certa noite, conversando com seu novo amigo virtual, ela acabou desabafando e contando sobre tudo o que havia acontecido na sua vida amorosa. Contou sobre como perdeu seu melhor amigo e a única pessoa que amou de verdade, e como foi devastada. Quando terminou de contar, seu amigo virtual havia escrito apenas a seguinte frase "...o amor sem ser incompreendido não seria romântico". Foi tudo o que ela precisou ler para ter certeza que estava na hora de arriscar e apagar a "memória sinestésica" para sempre.

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